Paula Mariá

fevereiro 2, 2010

Para onde é que foram meus estudantes?

Filed under: Uncategorized — Paula Mariá @ 4:38 pm

Quero muito iniciar esse blog, entretanto atualmente, não tenho nenhum conteúdo em mente para produzir material de qualidade. Começo então com uma antiga crônica, publicada no Jornal Matéria Prima.

Para onde é que foram meus estudantes?
O desabafo de uma rua sobre o tempo em que os universitários costumavam frequentá-la, pedindo por um Brasil melhor

Ah, como me lembro daquelas tardes! Os garotos não me deixavam em paz. Gostavam de mim, sei que gostavam. Todo tempo estavam marcando a próxima vez em que iriam me encontrar. Falavam de mim nas universidades e nos bares. Alguns até mesmo lembravam de mim nas músicas. Claro que de forma disfarçada, não podiam sair por aí gritando meu nome. Sabe como é, a censura os barrava.

Mas eles não se aquietavam por isso, não. Batiam o pé e vinham, sim, ao meu encontro. Eu sabia quando eles estavam chegando. Sentia seus passos e ouvia suas vozes, ambos tão fortes que me faziam tremer de emoção. Não eram simplesmente passos aqueles… eram cheios de vida e de esperança, passos sábios e apaixonados… por mim. Tão apaixonados por mim quanto eu por eles.

E as vozes? Ah, como eram belas vozes! Gritavam palavras bonitas e pediam por direitos. Ah, outra coisa maravilhosa naqueles garotos: eles se amavam. Sim, dava para sentir isso. Gostavam uns dos outros de verdade e eu acho que é por isso que vinham até mim. Não por si só, mas uns pelos outros.

Era incrível, toda vez que eu sentia aqueles passos e aquelas vozes, nos dias seguintes algo ocorria. Claro que ninguém me contava, com exceção desses maravilhosos dias em que eu me encontrava com os rapazes, o pessoal não era de falar muito na época. Mas eu sentia. Cada passo dos dias seguintes me mostrava que algo havia mudado. Eles estavam diferentes, não interessa como, mas eram passos diferentes.

Isso me mostrava que quando aquele pessoal das universidades e eu nos juntávamos era de valia, pois algo mudava. E mudou tanto, mas tanto que o país inteiro acabou mudando e conseguindo muitas das coisas que os rapazes pediam. Ah, que delícia, finalmente ouvir as pessoas falando sobre o que tinha ocorrido.

Mas algo deu errado nisso tudo. Com o tempo as vozes de alegria foram se apagando em meio a tantas reclamações de todos os lados. Foi piorando e hoje é só o que eu escuto: reclamações dos que caminham por mim todos os dias.

Estranho, essas vozes que reclamam vêm acompanhadas de passos tão leves, sincronizados, apressados e murchos. Para onde foram os rapazes dos passos fortes e vozes esperançosas? Se foi algo que lhes fiz, peço desculpas. E aclamo tão desesperadamente quanto vocês anos atrás: Voltem para mim, meus meninos, voltem para lutar uns pelos outros. Voltem e me livrem dessas vozes tão frequentes e desses passos que são sempre iguais… sempre iguais.

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